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Fissuras em obras: conheça os diferentes tipos – Parte III 

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Continuando e finalizando a nossa caminhada pelos tipos de fissuras em obras que o concreto pode apresentar, vamos falar sobre as fissuras relacionadas a erros de execução e por conta da exposição às intempéries. Vamos lá?

Corrosão

As fissuras por corrosão são muito comuns, principalmente em obras antigas ou em região marítima. O uso de concreto armado é um casamento quase perfeito. O aço dá ao concreto a resistência à tração, enquanto o concreto ajuda a proteger o aço contra a corrosão. Contudo, com o passar do tempo, o concreto pode carbonatar e, com isso, perder sua capacidade de “proteger” o aço. Havendo, então, contato com umidade e oxigênio, pode-se iniciar o processo de corrosão de armaduras.

Outra forma muito comum é o processo de corrosão se iniciar pela presença de íons cloreto, como na presença na água do mar e névoa salina (maresia). Se estes íons entrarem em contato com a armadura dentro do concreto, se inicia o processo de corrosão.

Mas então como eu faço para não ter problemas de corrosão na minha obra?

A melhor forma é ter um concreto o menos permeável possível, ou seja, um concreto com uma relação água/cimento baixa. Além disso, sempre realizar a manutenção periódica da edificação, retocando sua pintura. Essa pintura ajuda a criar uma barreira adicional aos agentes agressivos, prolongando a vida útil da estrutura.
Normalmente as fissuras por corrosão se apresentam no sentido das armaduras e, com a evolução da corrosão, podem levar ao desplacamento do concreto de cobrimento, conforme figura abaixo.

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Imagens: Reprodução

O risco desse tipo de fissura é sempre alto, uma vez que a corrosão gera uma redução da seção de aço, diminuindo sua resistência. Como o aço é importantíssimo para garantir a segurança e estabilidade de vigas, lajes e pilares, a sua deterioração implica diretamente na perda de segurança para os usuários da edificação.

Como corrosão de armaduras é um problema muito comum, TEREMOS AINDA UM TEXTO EXCLUSIVO SOBRE ESTE PROBLEMA.

 

Erro de encunhamento

Os prazos de entrega costumam ser grandes vilões para o assentamento adequado dos blocos, forçando algumas otimizações de tempo que acabam custando caro. Um exemplo disso é a realização de encunhamento dos blocos de vedação em pavimentos adjacentes, ao invés de alternados. Ou ainda não realizar o encunhamento de forma adequada e simplesmente preencher parcialmente este espaço entre a viga e a parede.
Neste caso, a deformação natural da viga vai gerar uma concentração de esforços em parte do bloco apenas, o que pode levar ao aparecimento de fissura.

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Crédito: Relatório de vistoria de Patologias Prediais – UFSC (2011)

Do ponto de vista de criticidade, não há problemas estruturais gerados por decorrência desse tipo de fissura. Entretanto, estas fissuras geram uma maior permeabilidade do elemento de vedação (parede), criando um ponto de percolação de água.

Reação álcali-agregado

A reação álcali-agregado (RAA) é uma reação que acontece no concreto quando se utiliza agregados reativos em sua composição. Essa reação química entre estes agregados e os álcalis do cimento formam um gel expansivo, que pode gerar fissuras. Essa reação é bem lenta, demorando cerca de 10 anos para começar a aparecerem sinais. Para evitar este tipo de fissuras é importante evitar o uso de agregados potencialmente reativos.

As fissuras de RAA apresentam normalmente um formato mapeado, como apresentado na figura abaixo.

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Crédito: Aquarius/Reprodução

 

Fissuras em janelas em quinas de aberturas

Fissuras em cantos de janelas e portas são extremamente comuns. Elas acontecem devido a uma concentração de esforços nestas regiões,  o que faz com que haja uma ruptura da alvenaria.

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FONTE: GRIEBELER, Jéssica R.;WOSNIACK, Mariana L. Análise de Patologias em Estruturas de Unidades Básicas de Saúde da Cidade de Curitiba

Entretanto, apesar se serem um tipo comum de fissura, elas também são facilmente evitáveis. A forma mais simples de fazer isso é com a utilização de vergas e contravergas no vão, como na figura abaixo. Em breve, no site do Amigo Construtor, você poderá acessar um TREINAMENTO EM VÍDEO SOBRE COMO EXECUTAR CORRETAMENTE VERGAS E CONTRAVERGAS EM SUA OBRA.

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Crédito: Sua Obra/Reprodução

Como pôde ser observado nesta série de três artigos, as fissuras apresentam as mais variadas formas e razões para existir. Portanto, é importante encararmos a questão com seriedade. Algumas fissuras são extremamente críticas e podem ser um indício de que a edificação tem riscos de ruína. O importante é nunca tentar “maquiar” uma fissura. Se não se sabe exatamente a causa dela, o mais seguro é recorrer a um engenheiro patologista, que poderá verificar a causa e assegurar a estabilidade da obra. Com fissura não se brinca!

Caso tenha perdido, confira a parte II aqui. A parte I está aqui.

Eng. Guilherme Aznar – Consultoria Técnica InterCement Brasil

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118: Projeto de Estruturas de Concreto – Procedimento. Rio de Janeiro, 2014, 238 p.

MAGALHÃES, Ernani F. de. Fissuras em Alvenarias: Configurações Típicas e Levantamento de Incidências no Estado do Rio Grande do Sul. 2004, 180p. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Curitiba, 2004.

GRIEBELER, Jéssica R.;WOSNIACK, Mariana L. Análise de Patologias em Estruturas de Unidades Básicas de Saúde da Cidade de Curitiba. 2017, 133p. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado) – Universidade Federal Tecnológica do Paraná, Curitiba, 2017.

aquarius.ime.eb.br/~webde2/prof/ethomaz/fissuracao/sld001.html

guideengenharia.com.br/corrosao-de-armaduras-e-as-trincas/

lpe.tempsite.ws/blog/index.php/qual-a-diferenca-entre-fissura-e-trinca/

www.universocores.com.br/tratamento-fissuras-fachada

ceosolucoesparaconstrucao.blogspot.com/2017/11/a-deterioracao-das-estruturas-de.html

Notas de aula Prof. Bernardo F. Tutikian

Relatório de Vistorias de Patologias Prediais – Bloco A – CCE – UFSC (2011)